de
Guilherme Floriano
Valter Frankilin, um nome meio impiedoso para um garoto de apenas 17 anos e em pleno colegial.
Pela janela do segundo andar do orfanato, uma abertura empoeirada e antiga na parede com uma vista, uma moldura grande de madeira e uma folha de vidro em cada lado é o que eles chamavam de janela.
Orfanato Joaquim Maurício. Um prédio antigo e verde musgo, ou, verde sujo.
Não sabia nada de seus pais, crescera ali. O lugar era visto por ele como sua casa, mas ao contrário de se nascer cego, ele tinha muitas referências de como era a vida quando se tinha pais.
Muito casais passavam por ali, faziam uma visita rápida e observavam as crianças, que não sabiam o que faziam para agradar e ser escolhido.
Era o sonho de todos que viviam ali. Fazer parte de algo. Esperavam.
Valter raspou sua cabeça na semana passada, e não se vestiu bem nas últimas visitas. Apesar de ter olhos azuis, sabia que tinha idade suficiente para que ninguém mais quisesse adotá-lo.
Suas mãos no bolso e sua cara fechada enquanto os olhos perscrutadores dos casais o encaravam, eram um sinal vermelho para que eles não o adotassem, pois já estava grande o suficiente e podia já ter se tornado um rebelde de “primeira”.
No fim de semana o parque abria, e as crianças do orfanato tinham passe livre concedido pelo dono do parque. Isso movia Valter por mais um dia, parecia que esse passe livre era seu único motivo para ainda estar por ali, já alto por entre aquelas pequenas e jovens crianças inocentes.
No caminho do parque, Valter escoltava as crianças e aguentava os olhares malignos dos outros rapazes e garotas.
Não ligava muito.
Em um portão de ferro achou um relógio prateado, d pegou discretamente sem que ninguém notasse. Notou que seus ponteiros giravam no sentido anti-horário.
Colocou aquele relógio no bolso de sua calça jeans surrada que ganhara de um casal que adotaram seu melhor amigo.
"vamos levar seu melhor amigo, mas toma aqui uma calça jeans"
Entrou no parque e pegou alguns passes para a montanha russa, enquanto a inspetora cuidava das outras crianças, comprando passes para o carrossel.
Valter sai do local e caminhou até a montanha russa. A fila era grande e haviam muitos jovens, daqueles ricos e nojentos.
Esperou aguentando cochichos que a fila andasse, para que ele entrasse naquele maldito carrinho e desse uma volta naqueles malditos trilhos.
Valter pôs o cinto e abaixou a trava de segurança. A centopeia de carrinhos começou a subir. Nos bancos da frente sentaram-se várias garotas, nos do meio vários caras e nos últimos haviam apenas Valter e mais ninguém.
Valter tirou o relógio do bolso tranquilamente e o pôs no pulso.
- Que relógio esquisito - sussurrou, percebendo que o pino para ajuste de horário estava saltado - Se este pino está saltado era para os ponteiros pararem e não girarem ao contrário.
Os primeiros vagões começaram a descer, puxando de leve os de trás.
Valter empurrou o pino para dentro com força.
Click
O vagão parou, o tempo parou.
Olhou para os lados pasmo e com olhos arregalados
- OH meu Deus! - sussurrou aterrorizado.
Girou o pino em um sentido e os vagões continuavam a despencar á medida que o girasse, como se imitassem seus movimentos.
Girou no outro sentido e o vagão regressava para o lugar de onde veio.
Um brilho nos olhos e um coração acelerado.
Um universo inteiro e suas infinitas possibilidades.